A influência de pais emocionalmente imaturos na infância

Aline Romanato

Aline Romanato

Certa vez, li a seguinte frase: “A infância é o solo em que pisamos a vida inteira”. E eu jamais havia encontrado algo que transcrevesse tão bem o significado da infância em nossas vidas. É exatamente isso… o que construímos quando crianças nos acompanha para a adultez. Nossas crenças são formadas lá. O nosso entendimento a respeito de nós mesmos, formação do nosso autoconceito, nossa autoimagem. A nossa autoestima. Tudo isso é a base em que nos desenvolvemos como seres no mundo, logo, é o solo em que pisaremos por toda a vida. A qualidade da nossa infância vai impactar diretamente em nossa personalidade, em nossos valores e nossos traumas.

Os adultos de referência são parte essencial dessa infância, pois eles nos servem como espelhos. Temos outras referências, mas hoje eu pretendo falar sobre os pais (ou cuidadores). Tendo em vista que pessoas machucadas machucam outras pessoas, pode-se compreender porque há tantos casos de pais que são capazes de fazer mal aos seus filhos. O foco desse texto é em pais que, sem se dar conta de seus comportamentos ou do porque se comportam dessa forma, ferem seus filhos, deixando marcas que vão ser levadas para a vida toda e, muitas vezes, manter um ciclo que leva à perpetuação, com a reprodução do mesmo comportamento. Esses pais são chamados de emocionalmente imaturos.

Um exemplo de característica central desses pais emocionalmente imaturos é a falta de conexão emocional, que vai fazer deles pessoas emocionalmente privadas, por isso distantes e, muitas vezes, instáveis. É comum que essas pessoas não consigam gerar conexão de qualidade com os próprios filhos, justamente por terem vivenciado eles mesmos essa privação, o que os impediu de aprender. Pais emocionalmente imaturos podem ser ótimos provedores de cuidados com a saúde física e financeira desses filhos, não deixando que lhes falte “nada”, mas são incapazes de ser íntimos deles.

Existe uma distância na relação, parecendo um muro invisível que eles nunca conseguem derrubar. Essa distância, que é a falta de intimidade e conexão emocional, vai gerar sentimentos de vazio na criança que, provavelmente desenvolverá esquemas decorrentes dessa situação.

Exemplificando… uma criança que não consegue se conectar de forma satisfatória com os pais certamente não vai compreender que há um problema com eles, mas sim, que há um problema com ela, que se sente rejeitada, defeituosa, incapaz de ser amada… Assim, a criança acredita que há algo de errado com ela e, a partir dessa interpretação, ela forma suas crenças a respeito de si mesma. Essas crenças podem ser afirmações do tipo: “Eu não sou digno de receber amor”. A partir disso, essa pessoa que naquele momento estava em desenvolvimento, vai dar continuidade a esse desenvolvimento acreditando nessa crença. Isso vai, inclusive moldar como ela se comporta no mundo, a qualidade das relações que ela vai ter e o que ela construirá.

Muitas pessoas repetem um padrão de se envolverem com pessoas que também não são capazes de proporcionar essa conexão emocional e isso se deve justamente porque nossos esquemas, formados lá na infância por meio de nossas crenças, vão nos manter em um lugar familiar. Então, por menos confortável que seja uma relação que traz sentimento de vazio, é justamente isso que é o contexto “familiar” para essas pessoas, pois é exatamente como elas conhecem. Tudo isso, sem nem mencionar as artimanhas da nossa mente que nos levam para esses locais familiares (distorções cognitivas, por exemplo).

O que podemos fazer para não continuar nesse ciclo, reproduzindo esses comportamentos que vão perpetuar esse padrão de imaturidade emocional? Desenvolver nosso autoconhecimento. Olhando para os nossos comportamentos e questionando sobre os porquês deles. Entender de onde eles vêm é o primeiro passo para modifica-los. Não é fácil, mas é muito possível!
Se sentir que não consegue sozinho(a), busque ajuda de um profissional!